A crise financeira que atingiu os mercados globais durante a semana deve intensificar os dilemas da política econômica brasileira e acirrar a disputa entre as alas ortodoxa e desenvolvimentista.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e membros do governo já deram sinais de que a provável retração do crédito externo será compensada por um papel mais ativo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de outros bancos públicos no financiamento do atual ciclo de investimentos – o que preocupa os ortodoxos.
“Há um cheiro de governo Geisel no ar”, diz Beny Parnes, diretor-executivo do banco BBM e ex-diretor do BC (Banco Central). Ele refere-se à famosa orientação de não desacelerar a economia na segunda crise do petróleo, em 1979, que teria sido a causa de duas décadas perdidas de hiperinflação e crises externas. “O mundo está dando um sinal ao Brasil, para que a gente cresça menos”, resume Parnes.
Para ele, insistir numa trajetória de alto crescimento, enquanto a economia global desacelera, pode levar a um aumento ainda maior do déficit em conta corrente, num momento em que há redução do financiamento externo.
A prevista queda do preço das commodities minerais e agrícolas exportadas pelo Brasil, por exemplo, na esteira da desaceleração global, pode agravar o déficit em conta corrente. Se isso provocar uma desvalorização mais intensa do real, por sua vez, a inflação pode ser impulsionada, forçando a alta dos juros.
Para Luciano Coutinho, presidente do BNDES, o Brasil está passando por um ciclo de crescimento saudável, puxado por oportunidades de investimento rentáveis em infra-estrutura, bens duráveis, setor residencial e commodities. Ele lembra que já é esperado que a alta dos juros desacelere a economia do atual ritmo de 6%.